Coisas inevitáveis


Crescer é perder o saco. Pequenas coisas não mais bastam. A gente cansa de quem é ingrato, quem não valoriza o gesto pequeno, quem não entende o poder de uma canção, quem não traz a sensibilidade estampada no peito. Eu enjoei de gente que não sabe sentir. E de quem só se queixa da vida e fica parado pensando que uma hora a festa vai ficar animada. A festa, muitas vezes, quem faz sou eu mesma. 

Crescer é utilizar melhor o tempo que resta. Cansei de amores de meia página. Amizades com meia dúzia de letras não me satisfazem mais. Com o passar do tempo, a gente quer sossego e tranquilidade que rodopia. Alguém que nos acolha, que nos traga um sorriso gratuito, que dê um abraço que deixa sem ar, que o abraço sem ar seja mudo e que tenha a seguinte legenda "olha, eu estou aqui bem aqui pertinho de você, não fica com medo não". O que a gente quer é se esconder do medo, nem sempre encarar é sinal de maturidade. Muitas vezes fazer um gesto pra lá de obsceno é bem mais maduro, atitude adulta, sabe como é? Foda-se. 
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Crescer é aceitar que os defeitos são peças indispensáveis no guarda-roupa e, felizmente, nunca saem de moda. Entenda que eu tenho, você tem, o mundo inteiro tem. Crescer é compreender que um dia, inevitavelmente, você cresce. Não adianta não querer, se esquivar ou correr. Quando você não tem armas suficientes para combater alguém, guarde a pistola ou a espada. Bandeira branca. Mãos livres. Paz. Crescer é aceitar apenas. Crescer é perceber que mesmo depois de bem crescido você ainda pode dormir abraçado num bicho de pelúcia. Crescer é um belo dia acordar com uma marca de carimbo na testa escrito "cresci". E agora?

Clarissa Corrêa

Comentários

  1. Anônimo5/6/13

    Lindo este texto...é isso ai agente tem é que crescer!

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